A ILHA SONHADA
Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude, que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a arte do bem-viver; uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.
De há muito sonho esta ilha, se é que não a sonhei sempre. Se é que a não sonhamos sempre, inclusive os mais agudos participantes. Objetais-me: “Como podemos amar as ilhas, se buscamos o centro mesmo da ação?” Engajados, vosso engajamento é a vossa ilha, dissimulada e transportável. Por onde fordes, ela irá convosco. Significa a evasão daquilo para que toda alma necessariamente tende, ou seja, a gratuidade dos gestos naturais, o cultivo das formas espontâneas, o gosto de ser um com os bichos, as espécies vegetais, os fenômenos atmosféricos. Substitui, sem anular.
(Carlos Drummond de Andrade)
01) Destaque a seqüência correspondente ao significado das palavras pecúnia (linha 1), estouvada (linha 6) e evasão (linha 10), extraídas do textículo de Drummond:
( ) dinheiro – arrumada – agressivo;
( ) gado – desajeitada – fuga;
( ) gado – arrumada – agressivo;
( ) dinheiro – desajeitada – fuga;
02) A palavra diuturnamente, que aparece no primeiro parágrafo, significa, no texto:
( ) diariamente
( ) soturnamente
( ) prolongadamente
( ) vagarosamente
03) A expressão do texto praticá-los diuturnamente, localizado no primeiro parágrafo, significa:
( ) estar ao lado deles quase todos os dias;
( ) pô-los em prática por largo espaço de tempo;
( ) freqüentá-los por largo espaço de tempo;
( ) freqüentá-los quase diariamente;
04) Segundo o autor, “a ciência” e “a arte de bem viver” consistem em:
( ) fugir da convivência social, sempre detestável;
( ) conviver com os homens por lado espaço de tempo;
( ) fugir da convivência social e de si mesmo;
( ) conviver com os homens com discrição e fraternidade moderada;
05) Para o autor, a melhor maneira de viver é:
( ) evitar totalmente o convívio com seus semelhantes;
( ) conviver com os homens com certa reserva, sem importuná-los e sem perder a vida interior;
( ) conversar com todos, para obter ocasionais vantagens;
( ) integrar-se totalmente na comunidade;
06) Na frase atribuída ao(s) leitor(es) – “Como podemos amar as ilhas, se buscamos o centro mesmo da ação?” – está contida em:
( ) contradição;
( ) hesitação;
( ) surpresa;
( ) supressão;
07) A expressão “pondo-me a coberto de ventos (...)” situada no primeiro parágrafo, equivale a:
( ) protegendo-me de ventos (...)
( ) pondo-me na direção de ventos (...)
( ) cobrindo o meu refúgio para protegê-los de ventos (...)
( ) constringindo-me de ventos (...)
08) Que significa realmente essa ILHA do texto?
( ) um pequeno trecho de terra cercado de água por todos os lados;
( ) um elemento de auto-afirmação;
( ) um refúgio onde se possa encontrar a tranqüilidade interior resultante do encontro do homem consigo mesmo;
( ) um elemento de fuga a si mesmo;
09) Destaque o item verdadeiro de acordo com a crônica lida:
( ) o autor, em um delírio de grandeza, sonha comprar uma ilha só para ele;
( ) o autor sonha comprar uma ilha onde possa viver ociosamente;
( ) o autor “sonha uma ilha” – refúgio onde possa encontrar a tranqüilidade interior resultante do encontro consigo mesmo;
( ) o autor “sonha uma ilha” para pôr-se um pouco afastado de “ventos, sereias e pestes”.
10) Da leitura do texto, concluí-se que o escritor é:
( ) ativo, empreendedor, amante de grandes realizações;
( ) misantropo, casmurro, inimigo do convívio humano;
( ) rico de vida interior, que admite o convívio discreto e não separado com os seus semelhantes;
( ) alegre, entusiasmado, sempre buscando comunicar-se com os
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